É o ponto de vista que advoga o fecundo investigador cubano Jesus Fuentes Guerra no seu brilhante ensaio, intitulado Lydia Cabrera y la bantuidad linguística, estudo que acaba de ser publicado, nas edições Mecenas, em Cienfuegos.
Análise critica da grande obra de referência da saudosa africanista cubana, Vocabulário congo: El bantu que se habla en Cuba, esta clarividente releitura permitiu ao seu autor de receber o Premio Literário da Fundação Fernandina de Jagua.
Imprimido sobre 202 paginas, sob a forma de um livrinho, a obra articula-se numa dezena de capítulos, nos quais, o especialista do centro da grande ilha das Caraíbas examina, a luz dos recentes progressos realizados no domínio da bantuistica e sob uma metodologia, necessariamente, comparativa com as línguas e culturas convergentes de Africa central, oriental e austral, o léxico proposto pela Cabrera, falecida em 1991, do falar palero (iniciático), e isso, sob varias formas.
Guerra reexamina todas as particularidades fonéticas deste idioma residual, as diferentes composições que se cristalizaram, o grau de perpetuação, nesta linguagem, do perfil morfosintáxico bantu, o continuum semântico que se operou aí, e a dimensão religiosa deste dialecto.
O apreciador do Vocabulário Congo... , obra publicada, apesar de tudo, — identidade nacional obriga! — na hostil Miami, em 1984, ele mesmo, autor da La nganga africana... , concluía a sua revista por anexos constituídos pela reprodução, a titulo ilustrativo, de uma pagina do inventario de Cabrera e mapas indicativos da zona bantu, da situação geográfica da língua kikongo assim como da localização do famoso crescimento da exploração açucareira, registado entre 1835 e 1862 no imenso território ilhéu elevado ao norte do Mar das Antilhas.
Notar-se-á que o desenvolvimento desta cultura, esclavagista, por excelência, foi uma grande devoradora de "congos", nas regiões central e ocidental de Cuba, confirmando, assim, o seu famoso qualificativo de "Gran Plantación"
Abordando a substância da sua critica, o censor de Cienfuegos recorda, logo de início, que esta obra fundamental reúne cerca de 3000 expressões afro-cubanas, mas igualmente, textos de invocação.
Instruindo a sua tese sobre a influência preponderante do kikongo na fixação do falar palero no pais dos kimbisa e dos mayombés, o simpático Fuentes Guerra confirma, baseando-se no seu estudo Nzila Mpika, La Ruta del escravo, que o idioma do "pais da pantera" era a primeira língua de comunicação entre os negros — africanos bozales vindos directamente de Africa central e austral, colocados aos trabalhos forçados nas actuais províncias de Sancti Spiritus, Cienfuegos e Matanzas.
DITONGAÇÃO
O revisor, linguista de formação, passa, em seguida, a um exame técnico minucioso de cerca de cinquenta termos do catalogo de Lydia Cabrera,
Precisa a evolução fonológica, caribenha, da língua H de Malcom Guthrie, caracterizando os diferentes processos que ela subiu, num contexto dominado pelo espanhol, mutações tais como a ditongação de vogais em posição final com locução aguda ou grave, a exemplo de mbisi (carne), que se cristalizou em embise; ndungu (pimento) fixando-se em endungo.
Estuda, depois, o processo de alteração dos grupos consonânticos com o nasal em posição inicial absoluta; mpangui (irmão) tornando-se ampangue; ubele (faca) mudando em ubele.
Enfim, termina a sua inspecção pelo um veredicto do processo de sincretismo tonal, e aponta, entre outros exemplos, ngwala (álcool), tornando-se enguara com o seu significado de origem, mas igualmente, com um novo sentido, a oportunista (amizade) que cria o consumo do álcool; mbumba (gato) designando também, numa alusão meio metafórica, um secreto.
O especialista da ilha na qual "A luz espalha-se" indica, em síntese, três orientações dos processos linguísticos que foram registados aí: a alteração de referencia semântica, a perda de memoria e a sobreposição do castelhano.
Falar contemporâneo, por excelência, de liturgia, recolheu aí centenas de vocábulos, cantos e ditados de origem kongo
E, Fuentes Guerra apressou-se de comparar o conjunto desses elementos a luz da obra que ele publicou, corajosamente, com o seu fiel colega norte-americano, Armin Schwegler, livro intitulado Lengua y ritos del Palo Monte Mayombé... .
O investigador da costa meridional da "La Isla" precisa, neste idioma residual, a perpetuação linguística e antropológica de dezenas de conceitos a exemplos dos inevitáveis enganga (curandeiro), enkisi (amuleta), endoki (malfeitor), encuyo (diabo), enkita (espírito), enzazi (faísca), vriyumba (génio) — sintagmas que transitaram pelo molde da ditongação.
Põe em relevo Sambianpungu (Deus), kindiambo ou mambo (caso), malafo (vinho) e nota topónimos tais como Luando ou Mumboma.
A releitura do precioso Vocabulario congo: El bantu que se habla en Cuba por Jesus Fuentes Guerra é uma iniciativa a saudar tendo em conta a influencia determinante que esta importante obra, resultado directo, para o essencial, de trabalhos de terreno, empreendidos pela tenaz Cabrera, entre 1936 e 1958, exerceu sobre trabalhos posteriores, na escola africanista cubana, mas igualmente, nos outros horizontes, a exemplo de Ta makuende yaya... de Bolívar e Gonzalez assim como Los remanentes de las lenguas bantues en Cuba da grácil e excelente Gema Valdês Acosta.
A substancial recensão do colaborador da Fundação Fernando Ortiz constitui, assim, e sem duvida, uma contribuição a um melhor conhecimento do famoso Nonstandard Caribbean Spanish, cuja uma das influencias, as mais estruturantes, foi a vinda da Baixa Guiné, quer dizer, para o essencial, do actual território angolano.
Simao SOUINDOULA
Director do Museu Nacional da Escravatura
Coordenador do Comité de Angola do Projecto da UNESCO "A Rota do Escravo"
C.P. 2313
Luanda
ANGOLA
E-mail: bantulink@yahoo.fr
Página enviada por Simao Souindoula
(4 de mayo de 2008)
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C'est le point de vue que défend le fécond chercheur cubain Jesus Fuentes Guerra dans son brillant essai, intitulé Lydia Cabrera y la bantuidad linguistica, étude qui vient d'être publiée, aux éditions Mecenas, á Cienfuegos.
Analyse critique de la grande œuvre de référence de la brave africaniste cubaine, Vocabulario congo: El bantu que se habla en Cuba, cette clairvoyante relecture a permis á l'auteur de recevoir le Prix Littéraire de la Fondation Fernandina de Jagua.
Imprimé sur 202 pages, sous la forme d'un livrinho, l'ouvrage s'articule en une dizaine de chapitres, dans lesquels, le spécialiste du centre de la grande île des Caraïbes examine, á la lumière des récents progrès réalisés dans la bantouistique et sous une démarche, fatalement, comparative avec les langues et les cultures convergentes de l'Afrique centrale, orientale et australe, le lexique proposé, par Cabrera, décédée en 1991, du parler palero (initiatique), et cela, sous divers angles.
Guerra y réexamine toutes les particularités phonétiques de cet idiome résiduel, les différentes compositions qui s'y sont faites, le degré de perpétuation, dans de ce langage, du profil morphosyntaxique bantu, le continuum sémantique qui s'y est opéré et la dimension religieuse de ce dialecte.
L'appréciateur du Vocabulario congo... , œuvre publiée, malgré tout, — identité culturelle nationale oblige! — dans la très anti — castriste Miami, en 1984, lui-même, auteur de La nganga africana... , conclut sa revue par des annexes constitués par la reproduction, á but illustratif, d'une page de l'inventaire de Cabrera et des cartes indicatives de la zone bantu, de la situation de la langue kikongo ainsi que de la localisation du fameux boom de l'exploitation sucrière, enregistré entre 1835 e 1862 dans l'immense territoire immergé du nord de la Mer des Antilles.
L'on notera que le développement de cette culture, esclavagiste par excellence, fut une grande dévoreuse de congos, dans les régions centrale et occidentale de Cuba, confirmant, ainsi, son fameux qualificatif de "Gran Plantacion".
Abordant la substance de sa critique, le censeur de Cienfuegos rappelle, d'entrée de jeu, que cette œuvre fondamental réunit prés de trois mille expressions afro-cubaines, mais aussi, divers textes d'invocations.
Instruisant sa thèse sur l'influence prépondérante du kikongo dans la cristallisation du parler palero dans le pays des kimbisa et des mayombés, le très cubain Fuentes Guerra annonce, prenant appui sur son étude Nzila ya mpika (La Ruta del esclavo), que l'idiome du "pays de la panthère" était la première langue de communication entre les négro-africains bozales venus directement d'Afrique centrale, commis aux travaux forcés dans les actuelles provinces de Sancti Spiritus, Cienfuegos et Matanzas.
DIPHTONGAISON
Le réviseur, linguiste de formation, passe, ensuite, á un examen technique minutieux d'une cinquantaine de termes de l'inventaire de Lydia Cabrera.
Il y précise l'évolution phonologique, caribéenne, de la langue H de Malcom Guthrie, en caractérisant les différents processus qu'elle avait subis, dans le contexte dominé par l'espagnol, mutations telles que la diphtongaison de voyelles en position finale avec locution aigue ou grave, á l'exemple de mbisi (viande) se cristallisant en embise; ndungu (piment) se fixant en endungo.
Il étudie, après, le processus d'altération des groupes consonantiques avec la nasale en position initiale absolue, mpangui (frère) devenant ampangue; ubele (couteau) changeant en ubele.
Enfin, il termine son inspection par un verdict du processus de syncrétisme tonal, et, il propose, entre autres comme exemples, ngwála (alcool) devenant enguára avec sa signification d'origine mais également, un nouveau sens, l'opportuniste amitié ; mbúmba (chat) désignant aussi, dans un renvoi passablement métaphorique, un secret.
Le spécialiste de l'île dans laquelle "La Lumière s'élargit" propose, en synthèse, trois orientations des processus linguistiques qui y ont été enregistrées: l'altération de référence sémantique, la perte de mémoire et la superposition du castillan.
Parler contemporain, par excellence, de liturgie, Lydia Cabrera y a collecté des centaines de lexèmes, chants et dictons d'origine kongo.
Et, Fuentes Guerra s'est empressé de comparer l'ensemble de ces éléments á la lumière de l'ouvrage qu'il a, courageusement, publié, avec son fidèle collègue nord-américain, Armin Schwegler, livre intitulé Lengua y ritos del Palo Monte Mayombé... .
Le chercheur de la cote méridionale de la "Isla" y précise la perpétuation linguistique et anthropologique de dizaines de concepts á l'exemple des inévitables enganga (guérisseur), enkisi (amulette), endoki (sorcier), encuyo (diable), enkita (esprit), enzazi (foudre), vriyumba (génie), enfumbi (cadavre), — syntagmes bien bantu ayant transité par le moule épenthétique îlien.
Il met, en outre, en relief Sambianpungu, kindiambo, mambo, malafo et y note de toponymes tels que Luando ou Mumboma.
La relecture du précieux Vocabulario congo, el bantu que se habla en Cuba par Jesus Fuentes Guerra est une initiative á saluer vu l'influence déterminante que cette importante œuvre, résultat direct, pour l'essentiel, de travaux de terrain, menés par la tenace Cabrera, entre 1936 et 1958, a exercé sur les travaux postérieurs, dans l'école africaniste cubaine, mais aussi ailleurs, á l'image de Ta makuende yaya... de Bolivar et Gonzalez et Los remanentes de las lenguas bantues en Cuba de la gracile et excellente Gema Valdes Acosta.
La substantielle recension du collaborateur de la Fondation Fernando Ortiz constitue, ainsi, et sans nul doute, une contribution á une meilleure connaissance du fameux Nonstandard Caribbean Spanish, dont l'une des influences les plus structurantes a été celle venue de la zone bantu.
Simao SOUINDOULA
Directeur du Musée National de l'Esclavage
Coordinateur du Comité pour l´Angola du Projet de l'UNESCO "A Rota do Escravo"
C.P. 2313
Luanda
ANGOLA
E-mail: bantulink@yahoo.fr
Página enviada por Simao Souindoula
(1 de mayo de 2008)
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