Estendendo-se sobre 129 paginas, este glossário apresenta o vocabulário residual dos Tainos, uma tribo ameríndia, classificada no grupo arawak, população que habitava as Grandes Antilhas durante os primeiros contactos com os Europeus, no fim do século XV.
Designada, igualmente, como lucayo (idioma ileu), esta lingua, variante, portanto, da família arahuaca (arawak), estendia-se da ponta da Florida aos territórios dos actuais Bolívia e Paraguai.
A importância deste excepcional documento reside no facto de que esta população pré-colombiana, quase desapareceu um século após da rude dominação dos implacáveis conquistadores espanhóis e a introdução de novas patologias mortíferas. Mas, forca a cultura, palavras tainos sobreviveram ate aos nossos dias.
Esta evolução, marcada pela gradual coexistência com os novos estabelecidos, dentro dos quais escravos subsarianos e a sua inevitável influencia, deixara traços na língua e na cultura deste povo, autóctone, nomeadamente, nas ilhas da antiga Espanola, hoje Haiti e Republica Dominicana, mas também, em Cuba e Porto Rico.
Compilado na segunda metade do século XX e publicado, pela primeira vez, em 1906, ano da morte do autor (1852 - 1916), que era, igualmente, arqueólogo, este inventario e, quase, portanto, um levantamento de primeira mão e de grande frescura, ultima produção das "obritas" sobre a reconstrução dos vocábulos, das etimologias, dos ditongues e outras particularidades linguísticas tainos.
A perpetuação africana e, sobretudo, perceptível na onomástica, a toponímia, a fauna, a flora e o artesanato.
Notar-se-a que formado na estrita tradição erudita italiana, Rodolfo Sosa consegui evitar, com brio, a este nível, as inconvenientes homofonias e homografias, sobretudo que dezenas de expressões tainos foram emprestadas pelas línguas bantu e outras, a traves do castelhano.
Honesto, o autor reconhece nao poder explicar a origem da palavra coati, utilizada pelos Karibes, que designavam, pelo este termo, um insecto comestível da espécie coleóptera. Na realidade este termo parece, visivelmente, ter sido emprestado do kikongo, kuati, mukuati.
Perspicaz, Cambiaso crê que a palavra cachimbo tem uma origem africana.
RADICAL PROTO-BANTU
Confirma, igualmente, que o substantivo cazimba e bem conhecido nas Grandes Antilhas como vindo das costas africanas e que designa uma fonte ou um poço.
Sob uma incontestável influencia de locutores bantu, particularmente, barulhentos, os "Desaparecidos das Caraíbas", denominavam, genericamente, vários arvores, por caya e cujo um dos radicais proto-bantu da - kaya, para leaf ou folha.
Isto parece ser uma consequência da nítida influencia de locutores congos no conjunto insular que levaram, ai, as formas dikaia, ekaia, lukaia e as nomeações sobre os diversos tipos de folhagens, os relativos, nomeadamente, a bananeira, ao mandioca, ao milho, ao tabaco, ao feijão, etc.
Os ameríndios insulares, obrigados de coabitar com os Bantu, grandes epicureus, adoptaram, naturalmente e bem, a lasciva rumba, que eles designaram diumba, do bantu cumba, cordão umbilical.
Uma das sobrevivências bantu dentre das mais notáveis apontadas pelo lexicólogo dominicano e engombe, antropónimo adoptado pelo um antigo chefe nativo, proprietário de um importante rebanho de bois e topónimo, indicando, hoje ainda, o lugar das antigas terras, situado entre a cidade de Santo Domingo e o rio Haina.
Peremptório, o dicionarista confirma que funche, o prato de milho cozinhado com legumes não e uma "voz indigena". Esta parece derivada do velho termo kikongo, nfundi ou do kimbundu, funji, bola de farinha.
Por outro lado, filho da parte oriental da antiga Espanola, Cambiaso cre, à justo titulo, que a designação guandul não e originaria do pais.
Com efeito, este vocabulo, largamente expandido nas Americas e Caraibas, provem do kikongo, wandu e se refere ao Cajanus indicus (L) Spreng.
Facto sintomático, em Haiti ou Hay-ti, que na sua etimologia taino, quer dizer "Altas Terras", esta planta leguminosa e conhecida como Pois Angole ou Pois Congo. Esta origem parece confirmar, subsequentemente, as antigas relações portuguesas e italianas que indicavam que um dos alimentos de base no Reino do Kongo, entre o século XVI e XVII.
O autor alinha mabuya, que ele define como o génio do mal, o diabo, o espírito maléfico; o termo prevenindo do kikongo, mukuyu, diabo.
Acredita, com razão, que o termo mambi e de origem africana. Com efeito, o sistema de concordâncias das línguas bantu ateste a raiz -bi para bad ou mau. Em kikongo, utiliza-se, para isto, ambi, uambi, mbi ou imbi.
Enfim, reencontra-se no vocabulário feito, a palavra macuto, designando um cesto; parecendo a adopção taino vir do kikongo nkutu.
O ângulo de leitura bantu de "Pequeno Diccionario de Palabras Indo-Antillanas", confirma as imparáveis interacções culturais que tiveram lugar no continente americano e no conjunto insular caribenho, facto de civilização a reter, alem das enjoativos ferros ou dos animalizantes mercados a leilão esclavagistas.
E esta visão de sã dinâmica histórica tomada pela UNESCO, que acaba de declarar, bem oportunamente, este novo ano 2010, como sendo o do redentora aproximação das culturas do mundo.
E, o estudo pioneira de Rodolfo Domingo Cambiaso merece bem de desenvolvimentos modernos.
Simão SOUINDOULA
Vice-président
Comité Cientifico Internacional
Projecto da UNESCO "A Rota do Escravo"
C.P. 2313 Luanda (Angola)
Tel. : + 244 929 74 57 34
Par Simao Souindoula
(24 de enero de 2009)