Logo de inicio, o principal animador do work-shop sublinhou o facto de que a organização em Libreville desta actividade de promoção científica era um verdadeiro símbolo; sendo a criação da futura capital gabonêsa, em 1849, o resultado da luta contra a exportação para o além-Atlântico, da mão de obra negra.
Mais, para o Coordenador da Bantulink, a nova Rede Internacional para a Promoção da Identidade e da Diversidade das Culturas Bantu, o facto das actuais territórios angolano, congolês e gabonês tivessem sido reagrupados pela esclavagista "Loango Coast" tornava digna de interesse o conjunto dos aspectos históricos postos em relevo na outra cidade do Golfo de Guiné.
Abordando a substância da restituição, Souindoula precisou que o encontro do Foró Mbongui reagrupou uma trintena de especialistas de diversas disciplinas, dentro dos quais, historiadores, etnomúsicologos, antropólogos e sociólogos.
Citou, dentro desses, a elegante universitária afro-americana Sheila S. Walker, a estrela da world music vinda de Lima, Susana Baca, a latino-americanista baseada em Paris, Elisabetta Maino, a especialista françêsa das músicas urbanas africanas, Sylvie Clerfeuille, Gihad Sami Daoud, Professor no Conservatório de Música do Cairo e o semilhante Adépo Yapo, do Conselho Internacional de Música; sob o olhar amável da venerável Senhora Yandé Diop, das edições Presença Africana, que veio a cidade oceana, coordenar uma exposição de livros em relação com o tema da reunião.
Por outro lado, o orador realçou a brilhante intervenção de Christiane Taubira, deputada para a Guiana a Assembleia Nacional francêsa, que insistiu a cumprir, a correr, a peregrinação da cidade do "ntchévélika"
Samba carioca
Entre outros desenvolvimentos propostos a partir da orientação temática do simpósio, esses cortados pelas deliciosas melodias do cantor e lamelofonista (tocador de kisanje) Ya Vhos e o seu grupo de Ponta-Negra, o bantuista de Libreville, que tem a vantagem de ter sido o relator dos trabalhos, fez reter a análise das ceremónias de intronização dos "Reis do Congo" e da "Rainha Nzinga" no Brasil, a significação do famoso "Axé Africa" na muita crente Salvador de Bahia, o realce das preferências organológicas nas expressões musicais afro-peruanas, a ousada tentativa comparativa entre a tshiyanda cokwé e a torida samba carioca, a procura de novas vertentes da matriz negra do jazz, a grapa-kongo em Guadalupe, as celebres jogadas musicais dominicais do equivoco "Congo" square, em Nova Iorque, a evocação da música africana na obra do veterano Aimé Césaire, o sempre Presidente da Câmara Municipal de Fort de France, e, enfim, a contagiosa reapropriação das revelações biblicas na música afro-caribenha contemporânea.
Passando a sua própria comunicação, Simão Souindoula sublinhou que uma das consequências da gradual instalação, a partir de 1680, de milhares de trabalhadores negros, na região rio-oceana que banha Argentina e a Uruguay, foi o enraízamento, nesta zona, de músicas e danças bantu.
E, dentro das variantes dessas festas, o orador realçou candombé, cambunda,banguela, mana, quisam, lubolo e... tango.
Classificado em 1840, como "candombé" (ritmo dos negros), o tango não escapará, segundo Souindoula, a um decreto das autoridades da Uruguai independente, proibindo-a simultâneamente aos tambos, em espectáculos no ar livre. Será, portanto, confinado nas salas, tornando-se, dança de boa companhia.
Este ritmo dos "tamboriles" africanos será normalizado na quase branca cidade de Buenos Aires, por mãos negras. Beneficiará do enriquecimento de elementos afro-cubanos, correctivos da habanera, assim que dos inevitavéis modos de execução espanhol e italiano. O tango, como as outras cristalizações de origem africana, marcou, singularmente, o quadro artístico da sub-região. Com efeito, o historiador angolano citou, entre outros factos, a reveladora peça de Andrés Castillo e de Francisco Merino "Del candombé al tango", apresentada, em 1972, pelo Teatro Negro Independiente da capital uruguai.
Sobre este ponto, o Coordenador da Bantulink relevou que os participantes do encontro da cidade atlântica, lamentaram profundamente a ausência de Tomas Olivera Chirimini, o fundador em 1973, do Conjunto Bantu de Montevideo.
Interrogado — isso era inevitável — sobre as prestações vindas do "Novo Mundo", Simão Souindoula afirmou que é incontestavel que essas foram a altura das esperanças. Ilustrou o seu ponto de vista restituindo o perfil da ceremónia de abertura do festival, que teve lugar no Estádio Félix Eboué, do nome do famoso Governador de origem antilhana. O espectáculo produzido, pela esta ocasião, foi, sob todos ângulos (representações coreográficas e sincronia dos sons e das luzes), de grande qualidade.
Fez, assim, notar a poderosa voz saida de Los Angeles, a de Debbie Davis, e a irresistível souk do grupo haitiano Original H.
E, para ele, o momento de emoção mais intenso foi a reinterpretação pela cantora africana-americana de dois clássicos da música congolêsa, o primeiro, do saudoso Franklin Boukaka e, o segundo, do decano Antoine Moudanda, oportunamente presente no grande estádio de Poto-Poto.
Aquele administrador do festival aproveito da magnífica flor oferecida ao Congo da margem direita pela Debbie Davis, para afirmar, em conclusão do work-shop, que além duma história feita de suor e de sangue, engajou-se entre as duas costas do Atlântico, desde o século XVI, intercâmbios culturais fecundos e que terão, a partir do século XX até os nossos dias, um forte impacto internacional. E, deu como exemplo contemporâneo, a declaração feita em pleno espectáculo, em Paris, pelo o famoso cantor madrileno, Julio Iglésias, sobre o facto de que o seu pai e a sua mãe encontraram-se dançando o tango, esta dança cujo uma das componentes históricas é "candombé".
Simão Souindoula
Historien
CICIBA (Centre International des Civilisations Bantu)
B.P. 770 Libreville Gabon
Tél. ( 241 ) 77 44 28 (d) — 70 40 96 (b)
E-mail: souindoula@voila.fr